Abrimos a porta dos desesperados

5 de julho de 2022 0 Por curacionemocional

Quem era criança no Brasil, na década de 80, provavelmente vai se lembrar da Porta dos Desesperados, do programa do Sérgio Malandro.

Para quem não se lembra: eram três portas no centro do palco – 1, 2 e 3. O participante da brincadeira, sempre alguém da plateia, escolhia uma delas e abria a porta, depois de muito suspense. Lá dentro podia ter um prêmio, como videogame, bicicleta e outros sonhos de consumo das crianças daquela época, ou uma surpresa assustadora. Alguém vestido de lobisomem, de bruxa, múmia e por aí vai…

Aqui neste vídeo o apresentador relembra como surgiu a ideia:

Mas esse post não é apenas para lembrar desse clássico dos anos 80 e deixar alguns leitores nostálgicos (e quem escreve também!). A ideia é traçar um paralelo entre a porta dos desesperados e o momento de euforia que estamos vivendo na pandemia.

Com o avanço da vacinação e o retorno da vida social, muita gente entendeu que é hora de recuperar todo o tempo perdido durante o isolamento e viver como se não houvesse amanhã. A vida é agora, portanto, viva intensamente. Quem nunca ouviu esse conselho? O futuro parece mesmo incerto, ainda mais num cenário de crise econômica e eleições no Brasil, mas isso não quer dizer que o mundo vai acabar amanhã e que você não tem tempo a perder.

Esse tipo de pensamento pode causar uma série de excessos, em diferentes aspectos. Dinheiro, relacionamentos, trabalho; tudo pode ser afetado quando você vive impulsivamente, sem considerar o longo prazo. Parece que estamos desesperados para viver, querendo concretizar nossos planos todos de uma vez, na maior pressa.

Quem está acima dos 30 anos sente ainda mais necessidade de correr, de apertar o passo, de acelerar. É a vida vivida em sua máxima ansiedade, como se a gente estivesse em risco e pudesse morrer a qualquer momento. É verdade que a morte é um risco iminente, mas viver de forma tão impulsiva não é a solução. As pessoas podem acabar tomando decisões precipitadas e se arrependendo amargamente do que deixaram para trás. Empregos podem ser perdidos, negócios podem ser quebrados, parcerias podem ser rompidas – tudo sem uma pausa para respiro.

A gente precisa parar para respirar. Pode parecer óbvio, mas estamos tão frenéticos e afobados que o respiro é ofegante. Isso cansa. A vida não é uma maratona. Não estamos numa corrida contra o tempo. Mais do que chegar ao destino, devemos nos preocupar em apreciar a jornada.

Devemos cuidar de nós mesmos e de quem amamos, certos de que nossas relações são a única garantia de uma vida extraordinária no futuro. É fato que a qualidade dos nossos relacionamentos afetivos impacta diretamente a nossa felicidade aqui, agora e sempre. Então vamos cultivá-los, regá-los, transformá-los. Vamos cuidar da nossa saúde mental, além da física. Vamos medir as consequências dos nossos atos e das nossas falas, principalmente nas redes sociais. Vamos com calma, ainda há muito o que viver. Por mais que pareça, o mundo não vai acabar amanhã. A vida continua. Então calma, sem desespero.