O preconceito com os remédios

Esses dias li essa matéria da Folha de São Paulo sobre o aumento no consumo de medicamentos para ansiedade e depressão durante a pandemia.
Com uma crise sanitária e econômica desse tamanho, já era de se esperar que a saúde mental fosse fortemente abalada. Quem já tinha algum quadro de ansiedade e depressão viu os sintomas se intensificaram. Outros experimentaram um diagnóstico de doença ou transtorno mental pela primeira vez.
Dependendo da gravidade do caso, o psiquiatra recomenda o tratamento medicamentoso aliado à terapia comportamental, uma combinação que costuma funcionar bem. Porém, para quem nunca teve contato com um psiquiatra antes, não é natural receber a prescrição médica.
Muita gente se assusta quando olha para a receita e vê lá o nome de um remédio tarja preta. Normalmente, o primeiro pensamento é: como assim tarja preta? Estou ficando louca? Estou ficando louco? Depois do susto, vem a resistência. Não vou tomar, não preciso disso, não é tão grave assim. Vou me curar com meditação.
Até dá para entender, porque o tema saúde mental ainda é cercado de tabus e associados a gente louca, fresca, desequilibrada, fraca. Ao mesmo tempo, fico me perguntando se as pessoas teriam a mesma reação se o médico recomendasse remédios para diabetes. Ou para pressão, por exemplo.
O paciente também se recusaria a tomá-los? Haveria toda essa resistência? Não é a saúde em jogo? A diferença é que estamos falando de saúde mental, no caso da depressão e da ansiedade, e de saúde física, no caso da diabetes ou da pressão. Mas saúde é uma só, a gente precisa enxergá-la e buscá-la de maneira integral, cuidando do corpo, da mente e do espírito.
Ou você nunca ficou nervoso e teve uma dor de barriga? Tudo está interligado, então por que fazemos tanta distinção na hora de seguir as recomendações médicas?
Nem toda ansiedade se cura com meditação. Muito menos depressão. São transtornos mentais, não são estados de espírito. Nós temos que entender que a depressão é uma doença – e ela mata. Dependendo da gravidade, a pessoa não tem forças sequer para levantar da cama, quanto mais para meditar.
Então como dizer para ela se curar com a meditação? É irresponsável, simplista, cruel. Não depende só dela, do pensamento positivo, da força de vontade. São processos biológicos acontecendo dentro do corpo dela. A meditação, a yoga, a acupuntura, a terapia de florais, o reiki e outras práticas integrativas podem complementar o tratamento, mas vendê-las como solução é a maior das falácias.
Não estou aqui questionando se elas são eficazes ou não, pelo contrário, até o Sistema Único de Saúde (SUS) institucionalizou essas práticas por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. https://aps.saude.gov.br/ape/pics
Também não estou defendendo os laboratórios farmacêuticos, porque sei que os remédios por si só não curam nada. Acredito que cada caso deve ser tratado na sua máxima individualidade e que a vontade do paciente deve ser considerada. Mas também acho que muitas vidas seriam salvas se a gente deixasse o preconceito para trás e cuidasse da saúde como um todo.
E você, o que acha?