Simone Biles sobrevivendo aos twisties

Quando a Simone Biles anunciou a desistência da maioria das provas de ginástica muita gente achou que era coisa de gente fraca. Nossa, como assim a atleta favorita da competição chega em Tóquio sem preparo emocional. Tanta gente por trás, tanto suporte, tantos anos de treinamento. COMO ASSIM! Pois é, ainda mais alguém do porte dela, que já ganhou num sei quantos torneios antes. Por que isso agora, né? Amarelou?
Foi o que muita gente pensou e, olha, eu não vou julgar. Não é todo mundo que entende essa coisa de conexão entre corpo e mente pra uma competição saudável. Não é todo mundo que sabe o significado de saúde mental. Não é todo mundo que tá acostumado a ver uma atleta mundial desistir no meio do caminho. Por que não termina o que começou? Melhor fracassar do que não tentar.
Podia parecer questão de ego também. “Ah, ela foi mal numa prova, não quis passar vergonha e tirou o time de campo”. Nessas horas, todo mundo tem uma explicação pra dar, mas ninguém ouviu a explicação dela, ninguém tá lá pra saber que pressão é essa que ela tá sofrendo, ninguém conhece os bastidores. Ninguém sabe o que essa menina levou consigo pra Tóquio, ninguém considera que estamos numa pandemia e tudo é mais difícil, ninguém leva em conta o quanto deve ter sido doloroso pra ela tomar essa decisão. Uma decisão que irá marcá-la até os próximos jogos olímpicos, até ela voltar numa Olimpíada e conquistar a medalha de ouro.
Porque muitas vezes a gente fica só com a manchete e não lê a notícia até o final. A gente não procura entender a fundo o que está por trás do post sensacionalista, do título caça-clique. A gente passa o olho e passa pra próxima. A gente não procura entender que são HUMANOS competindo e correndo o risco de ter uma lesão GRAVE por causa do desequilíbrio entre corpo e mente. Parece um conceito abstrato, mas o que a Simone Biles teve durante as suas apresentações foi uma vertigem que faz com que ela perca a noção de espaço e movimento enquanto faz suas piruetas. Já pensou no risco que isso representa? Já pensou que ela poderia se machucar seriamente se continuasse competindo? Vale o risco? E depois?
Não é mais HUMANO admitir pra você mesma que não está bem, que não consegue entregar o seu melhor, que a sua cabeça e o seu corpo não estão em sintonia e se retirar? Sim, igual aquela figurinha de whatsapp: EU ME RETIRO. Ou então eu vou fazer só aquilo que eu dou conta de fazer, pra não prejudicar ninguém e muito menos me prejudicar. E foi isso o que ela fez quando aceitou disputar uma das provas individuais nesta terça-feira. Foi com a cabeça erguida fazer o seu melhor. Resultado: medalha de bronze. Aplaudida de pé.
Não é uma bela despedida das Olimpíadas? Levantou a bola sobre SAÚDE MENTAL NO ESPORTE e ainda levou medalha para casa. Não é fracasso. Não é medo. Não é descontrole emocional. Não é frescura. É coragem para respeitar os próprios limites, contrariando todas as expectativas. É pensar em você em primeiro lugar. É ou não é uma vencedora?