
Síndrome do pânico nas empresas
Recentemente me deparei com uma situação no trabalho que me deixou chateadíssima. Um colega muito querido começou a enfrentar a síndrome do pânico. Ele não me contou isso, apenas soube pelos mais próximos de que ele estava com crise de ansiedade. E os colegas não renderam conversa, para não precisarem entrar em detalhes, eu imagino. Tem os tabus, tem o preconceito, tem o medo da demissão, tem o constrangimento…Eu entendo, ninguém quer falar abertamente sobre a síndrome do pânico, ainda mais no trabalho.
Mas eu soube que ele estava enfrentando a doença porque os sinais eram claros. Ele estava sempre muito concentrado no trabalho, sem momentos de pausa para conversar alguma bobagem ou rir com os colegas. Sempre tenso na cadeira, vidrado no computador.
Achava à princípio que era só um colega centrado, mas na verdade ele estava ali enfrentando toda a pressão. Não se permitia parar, porque tinha muito o que entregar. Eu também tinha e ainda tenho as minhas entregas, mas eu hoje consigo parar. Consigo levantar da cadeira e ir tomar um ar. Consigo rir da piadinha do colega ao lado. Consigo chegar atrasada sem me culpar. Consigo não desesperar com tantas demandas. Consigo, na medida do possível, ir embora no horário. Consigo não ir até a minha chefe dizer que não vou dar conta de tudo. Eu não sofro tanto por antecedência mais.
Mas o meu colega estava sofrendo. E era o lugar onde ele menos gostaria de sofrer. Ninguém quer demonstrar fragilidade no trabalho, né? Ninguém quer ser visto como o cara que não dá conta da pressão. O cara que precisa sair no meio da reunião porque está passando mal. O cara que não consegue participar de um curso no trabalho porque simplesmente precisa sair pra respirar. O cara que precisa tirar férias antes de completar um ano de emprego para tentar se recuperar. O cara que toma remédios. Poxa, remédios? Pesado isso, hein? É o que você pode pensar.
Agora imagina o fim dessa história? Após um ou dois meses, a empresa nos informou que “entramos num consenso e decidimos que o melhor seria ele sair para se cuidar”. Um outro jeito de dizer que ele foi demitido. Um jeito mais suave pra não assustar ninguém, sabe? E depois disseram pra gente que saúde mental é importante, que o caso sirva de lição. Poxa, nem precisava me dizer. Já aprendi a lição: esconder qualquer tipo de problema emocional no trabalho ouuuuuuuuuuu…demissão!
E sabe o que me deixou mais chateada? O meu colega saiu sem se despedir de ninguém. Foi demitido em uma sexta-feira, no fim da tarde, e saiu sem dar tchau. Com certeza se sentiu envergonhado, fracassado, menor do que os outros. Apenas mandou uma mensagem no grupo de WhatsApp agradecendo o convívio nos últimos meses e desejando sorte a todos. Eu gostaria de ter dado um abraço nele e dito que vai ficar tudo bem. Vai passar. É só uma fase. E se precisar de qualquer coisa, pode contar. Mas não deu. Só mandei uma mensagem via WhatsApp.
Acho que depois dessa, eu entendi que saúde mental no trabalho é só conversa em algumas empresas, como essa. E tem muito, mas muito o que melhorar.
Thaisa Santos