
Tragédia em Brumadinho: haja coração, bombeiros!
Eu não sei se vocês vem acompanhando as notícias sobre a tragédia em Brumadinho. Eu permaneço acompanhando os desdobramentos desse imenso desastre, ou melhor, desse crime ambiental que destruiu centenas de famílias. Um crime que eu nunca presenciei antes, algo que eu jamais esperava ver acontecer. Mas aconteceu.
Não faço a menor ideia do sofrimento das pessoas que perderam familiares, amigos e colegas de trabalho. Não sei calcular a dor de quem tem alguém querido ainda na lista de desaparecidos. Um pesadelo, acho que essa é a melhor definição.
Em primeiro lugar, pensei nas vítimas e me comovi completamente com a situação delas. Em um segundo momento, depois de 15 dias desde a tragédia, pensei nos bombeiros envolvidos na busca pelos corpos. Meu Deus, que trabalho mais difícil, mais exaustivo, mais desgastante. Me dói no fundo da alma ver o vídeo deles rastejando na lama úmida, com roupa de mergulho, no sol escaldante, em busca de sobreviventes. Aquela cena me doeu profundamente.
“Ah, mas eles são treinados para isso, tem condições físicas para isso” – você pode pensar. Ok, eu sei que aquilo ali é o trabalho deles, mas sabe….aquilo ali nunca aconteceu antes, eles nunca sentiram na pele o que é procurar centenas de pessoas debaixo da lama. Uma emergência dessas é sem precendentes. Ninguém viveu isso antes na história do nosso país. Não, eles não foram treinados para isso.
O que eles estão fazendo ali é doação mesmo. Não tem outra palavra. É a máxima doação de alguém em favor do próximo. Isso eu nunca vi antes em 31 anos de vida. É novo para mim. São centenas de bombeiros – inclusive de outros Estados – revezando dia e noite para dar, pelo menos, a chance das famílias enterrarem os corpos dos seus entes queridos. Se um trabalho desses não vale Nobel da Paz, eu não sei o que vale. Se um trabalho desses não merece o máximo reconhecimento do governo de Minas Gerais, eu não sei o que merece. Para mim eles precisam ganhar todos os prêmios de Melhores do Ano – sim, ainda estamos em fevereiro e eu acho que nada que vier adiante será melhor do que eles, em termos de ser humano.
E detalhe: os bombeiros mineiros estão trabalhando sem terem recebido 13o e com os salários parcelados há quase três anos. “Ah, mas nessas horas ninguém pensa nisso não”. Tá bom, nessas horas o propósito da profissão fala mais alto, mas convenhamos, trabalhar nestas condições não deixa ninguém feliz não. Todo mundo tem conta pra pagar. Todo mundo quer uma relação ganha-ganha, ninguém quer perder direitos não, ainda mais quando você trabalha salvando vidas. Ainda mais quando você compromete a sua saúde emocional e mental pelo outro que você sequer conhece.
Quem irá reconhecer esse trabalho? Quem irá exaltar esses heróis da vida real? Quem irá chamar cada um dos profissionais envolvidos nesta força-tarefa em Brumadinho e dizer pra eles em alto e bom som, para o mundo inteiro ouvir: PARABÉNS POR ESSE TRABALHO. PARABÉNS POR ESSA PROFISSÃO. TÁ AQUI A SUA GRATIFICAÇÃO, TÁ AQUI O SEU RECONHECIMENTO.
É o mínimo.
Melissa Assis